8 de abr. de 2011

Bruna Surfistinha: A Personagem

Farei uma análise da personagem Bruna Surfistinha, protagonista do filme homônimo. O filme é baseado no livro O veneno do escorpião, escrito por Raquel Pacheco, nome verdadeiro de Bruna S., para contar sua vida e suas experiências. O filme, portanto, é baseado em uma história real, e Bruna S. é um personagem/nome criado por Raquel para si própria.


Assim como os homens são criados à imagem e semelhança da força da Criação, que costumamos chamar de Deus, os personagens são construídos à nossa imagem e semelhança. Exibem nossas alegrias e dores, nossa ira e nosso afeto, nossas aversões e nossos desejos, nosso ódio e nosso amor... nossos sentimentos, enfim, e a forma como cada um de nós, de acordo com sua imagem de mundo própria/única (como únicos também somos) a eles reage.


Bruna S. nos é apresentada em sua fase criança/adolescência como uma personagem introvertida, embalada por frustrações, angústias, raiva, por não gostar e não ser feliz com a vida que leva. Ela se sente assim por vários motivos, dentre os quais o fato de ter sido adotada por uma família de classe média, e talvez por se sentir rejeitada, ela não tivesse um bom relacionamento com a família, principalmente com o pai e com o irmão, que a hostilizava e a criticava. Na escola não era diferente: não tinha amigos e ainda era perseguida pelos colegas. Nessa fase ela é apresentada como uma menina sem graça, sem grandes atributos, que usa roupas folgadas e sem nenhuma sensualidade.


Movida por sentimentos de ambição e cobiça, Bruna S. resolve sair de casa para poder ganhar seu próprio dinheiro e não precisar mais morar com sua família. Guiada (ou perdida) pela busca do sucesso/dinheiro, a persona/personagem envereda pelo caminho que lhe parece o único capaz de lhe prover o que deseja: o caminho do sexo prostituído e logo o das drogas. Como é uma pessoa estudada e com uma visão de mundo mais ampla que as de suas colegas da profissão, se destaca com suas ideias e sua ousadia, o que não impede que, mais tarde, venha a perder tudo o que conquistou. Durante esse período ela se transforma, passa a usar roupas extremamente sensuais, passa a ser atraente, extrovertida e usa a sexualidade/sensualidade em todos os momentos de sua vida, segundo ela mesma diz. Em determinado momento, no entanto, Bruna Surfistinha sofre a desestrutura completa... e se afunda no mundo das drogas. À beira de uma overdose e mais uma vez sem nada (como já se disse, ela perde tudo o que havia conquistado), a persona/personagem se obrigada a um caminhar mais centrado e, então, dá-se a virada: ela decide abandonar as drogas, juntar uma certa quantia e, afinal, despedir-se da vida de programas que incluem o sexo prostituído.


Durante todo o filme a vida de Raquel Pacheco/Bruna S. anterior à prostituição é apresentada em flashbacks, e em nenhum momento ela diz se arrepender do que quer que seja, mas que tudo o que queria era que todos soubessem o quanto ela ganhava com os programas que fazia e o que tal vida lhe possibilitou. O uso dos flashbacks, neste caso em específico, trata-se de uma técnica literária/cinematográfica que parece permitir um certo afastamento da persona de seu personagem, facilitando-lhe o revelar de um traço forte de ambição, de cobiça e da premissa (válida?) de que tudo vale a pena – por quaisquer meios - para que se consiga obter o que se deseja.


Enfim, Raquel Pacheco/Bruna Surfistinha, enquanto persona/personagem, consegue a estruturação interior alcançando o que lhe parece importar de fato na vida/enredo. Mas sempre fica a pergunta: será esta uma estruturação definitiva? Conseguirá a persona, ao longo do enredo vida, adaptar-se às mazelas, às dificuldades inerentes à vida em família... toda e qualquer família... que em outro tempo/espaço ela mesma não se adaptou... e rejeitou a ponto de buscar caminhos alternativos talvez tão desestruturados para, quem sabe, enfim conseguir estruturar-se?


Bem, o final deste enredo/vida... só o tempo nos poderá contar...



Aluna: Fernanda Távora Turma: 1COM33A

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