13 de abr. de 2011

SIMPLESMENTE MALÈNA!

O filme "Malèna", dirigido por Giuseppe Tornatore, conta a história de um amor platônico que o pequeno Renato (Giuseppe Sulfaro), um garoto de treze anos nutre por uma mulher, a bela e estonteante Malèna, interpretada por Monica Bellucci, tendo como pano de fundo a Itália de Mussolini em 1947, durante a Segunda Guerra Mundial.

Renato vive na pequena e conservadora vila de Castelcuto, na Sicília, um ambiente extremamente católico e repressor para os desejos próprios da sua pré-adolescência, condição esta que já o impulsiona a tentar provar sua maturidade viril para os colegas em jogos e brincadeiras próprios de meninos com hormônios à flor da pele. Até o dia em que ele conhece alguém que mudaria sua vida para sempre e daria asas aos seus desejos mais obsessivos: Malèna, uma linda mulher recém chegada à cidade. Por causa dela,Renato começa a se masturbar compulsivamente, se aventurar em situações perigosas como roubar uma calcinha dela numa lavanderia e começa a deixar a sua conservadora família preocupada com seu comportamento, ao mesmo tempo em que a bela mulher começa a se tornar alvo da cobiça dos homens e da inveja e da maledicência das mulheres da vila. Malèna passa então a ser alvo da obsessão de Renato, que a segue de dia e a observa à noite, ao mesmo tempo em que ela se torna uma atração à parte na cidade, por onde ela passa, todos os olhares desejosos e odiosos se voltam para Malèna.

A tensão no filme se inicia quando Malèna recebe a notícia de que seu marido, que lutava no front pela causa fascista de Mussolini, morrera em combate, e seu pai havia sido assassinado num bombardeio aliado, o que a faz entender a sua condição de mulher completamente sozinha e passa a depender de um comerciante que lhe oferece alimentos em troca de favores sexuais. Malèna então é obrigada a prostituir-se para os soldados alemães que ocuparam a cidade, e Renato, observando e sofrendo, sempre tentando ajudá-la das mais diversas maneiras, começa a se arriscar por lugares onde nunca esteve antes e a rezar para que Deus proteja a sua amada daquelas pessoas ruins. E então acontece o clímax, em uma das cenas mais chocantes já vistas no cinema: O exército aliado toma e liberta Sicília, e então as mulheres da cidade se aproveitam da situação e arrancam Malèna do prostíbulo onde ela trabalha, arrastam-na até a praça central, e a espancam, cortam seus cabelos, humilhando-a em praça pública, sob o olhar impassível dos maridos hipócritas, que sempre a desejaram. Malèna, então expulsa e humilhada, parte de Castelcuto num trem, observada de longe pelo apaixonado e sofrido Renato, que nunca a havia tocado ou falado com ela, mas que a tinha como seu primeiro amor. O tempo passa, e então Malèna retorna à pequena Vila, mais recatada e acompanhada do seu marido enganosamente dado como morto na guerra, mas ainda representando uma doce e bela fantasia do passado para os homens daquela cidade, e para um Renato já mais crescido, que tem finalmente seu momento de “presentear” Malèna com sua gentileza, ternura e olhar ainda de menino, oferecendo-lhe ajuda para carregar a bolsa de frutas que ela deixou cair na feira livre.

É importante atentar para o detalhe de que, apesar de ser um filme de romance, há no olhar de Giuseppe Tornatore um tom de crítica política ao forjar no roteiro o destino de Malèna à prostituição pelos soldados alemães, numa clara alusão ao fato de que Mussolini prostituiu seu país em favor da Alemanha de Hitler.

A fotografia é magistral e a trilha sonora de Ennio Morricone, como de costume, é magnífica e emocionante, principalmente nas cenas em que Renato, em sua bicicleta, observa de longe a partida do trem de Malèna, que sai da cidade envergonhada e humilhada pelas mulheres de Castelcuto, e posteriormente na cena da redenção de Malèna retornando à vila acompanhada de seu marido. O filme carrega na sua direção de arte a velha magia do cinema italiano, reedita o mito das grandes divas italianas através da bela Monica Bellucci e consolida a parceria do diretor Giuseppe Tornatore com o maestro Ennio Morricone, já bem sucedida no clássico “Cinema Paradiso”. É, seguramente, uma pérola cinematográfica de Tornatore, a maior desde “Cinema Paradiso”.

Laboratório de Comunicação UVA - Prof. Erica Ribeiro
Aluno: Michel Pegas Maluf - Noite

Um comentário:

  1. Tal como 'Cinema Paradiso', isso não é apenas um filme. É poesia em movimento.

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